Uma coisa do freak do Caeiro que deve ser tomada como referência para os que gozam de ser Portugas.

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo ... por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer, porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura ...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2003

Qual a ligação de Fátima à Couve de Loures?

Milhares, senão milhões de fiéis a Cristo e ao Altar do Mundo, dizia eu, milhares senão milhões de peregrinos que se dirigiram estes últimos dias a Fátima, viram logrados os seus intentos. Vindos de todas as direcções, aquilo parecia que estavam a dar pão de borla ou qualquer coisa, pois eram mesmo muitos, mas, fizeram-no de certeza como uma prova de Fé, cumprimento de promessas, noutros casos como mera curiosidade e outros com o puro sentido do comércio que nestas alturas por ali prolifera.

Até profissionais liberais como os carteiristas, ali demonstram a sua fé pelos turistas e demais palonços que pelas ruas e lugares deambulam na perspectiva de se confrontarem com aventuras e milagres concedidos.

Pois bem, falemos dos peregrinos, esses verdadeiros sacerdotes da Fé e do profundo sofrimento - só um aparte; a palavra "profundo" fez-me recordar agora um político português que dizia na sua altura "... estou aqui no PROFUNDO Alentejo a passar uns dias de férias com a minha família no Pulo do Lobo e ...", desde aí aquele paradisíaco lugarejo alentejano que mais não tinha senão que duas margens separadas por um metro de distância, se tornou tão popular e agora está todo enfarelhado de turismo e porcaria, mas, e dizia eu -, sofrimento este que é demonstrado pela forte capacidade que o povo português e demais habitantes desta peninsula têm em conjugar esforços para que nada mas mesmo nada fuja à regra do que está estipulado. O sentido a tomar e o destino a seguir é só um, venham de onde vierem: nesta altura é Fátima, e não o inverso. Ninguém vai de Fátima para lugar nenhum, todos vão para Fátima.

O exemplo de fé é demonstrado aqui, como no caso de uma senhora residente em Fátima, que prometeu vir a Loures no da 11 de Maio, só para comprar umas couves para fazer uma sopita. A sopita era para dar aos peregrinos quando estes chegassem a Fátima, famintos e cansados. Mas reparem no forte sentido de grupo e de coesão demonstrado pelos caminhantes. A senhora, coitada, ainda não chegou a Loures e está agora em Santarém a ser tratada dos vários ferimentos causados pelos sucessivos rebanhos de fiéis que a atropelavam num fervilhar de sentimentos e esgares de dor causados pelo infortúnio de terem prometido qualquer coisa a alguém, e a obrigavam sempre que se cruzavam com ela, a acompanhá-los até Fátima, munidos pelo sentimento de que ela não manifestasse a mesma fé que eles. Outros houve até que comprimidos a obrigaram a ingerir pensando que ela estava desorientada e endemonhada, até pauladas lhe deram para expulsar os maus espíritos, mas não, não meus amigos, ela só queria cumprir a promessa dela: vir a Loures comprar couves. E o que lhe aconteceu??! É hoje obrigada a comer canja de galinha nos hospitais de campanha da Cruz Vermelha (a Barroso ainda não sabe disto, senão...) onde ainda hoje se encontra. Tudo porque não conseguiu ludibriar os peregrinos famintos dos milagres da Senhora de Fátima, com a verdade de quem tem verdadeiramente Fé naquilo a que se propõe - neste caso, comprar as couves de Loures.

Vejamos outro caso, talvez mais grave: os Media por exemplo, sim, só se preocupam com os peregrinos que vão para Fátima, não se preocupam com os que regressam de Fátima. Estes que são os mesmos que foram para lá, regressam agora desiludidos, com os pés mais inchados e cheios de sangue do que nunca, feridas abertas pela caminhada insane a que se propuseram, sem água, sem cobertura televisiva, sem assistência médica, sem as mordomias a que estiveram habituados na ida. Tudo porque a televisão e a rádio não estão presentes, caso contrário tudo e todos estariam empenhados em servi-los com o que de melhor existe: caridade sem esperar uma recompensa (isto está escrito algures, não sei bem onde, mas que está escrito, isso está). Por exemplo, repararam que a senhora Barroso ainda não foi visitar a pobre desgraçada que só queria comprar umas couvesitas em Loures, e está agora numa tenda de campanha da Cruz Vermelha e que tem como companheiros de tenda (está bem que a tenda é moderna, funciona em open-space com camas duplas, energia solar, casas-de-banho descartáveis, etc.), doze famílias eslovenas alojadas ao abrigo de um Decreto-Lei recente que se propõe através de organismos humanitários, abrigar famílias desprotegidas. Isto porque não há cobertura nem televisiva nem radiofónica no regresso dos peregrinos desvairados, senão tudo seria bem diferente. Nem mesmo estes agora tem direito a ficar na espectacular tenda da CV, pois esta está ocupada por irmãos Eslovenos ...
Ilações a tirar desta pequena e fétida estória: Comam as couves da vossa zona residencial, vão ao supermercado, à cantina, à mercearia mas não saiam da vossa área e não procurem nem fama nem glória através do sofrimento causado pelo afastamento de casa, pois se quiserdes, podeis adquirir tudo isto ficando em casa a sofrer e molestarem-se com o programa sobre o QI do povo que dá aos domingos à noite ...

Que País mais rico em cultura existe, senão o nosso?! Viva a couve regional.

Outubro de 1998
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