Uma coisa do freak do Caeiro que deve ser tomada como referência para os que gozam de ser Portugas.

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo ... por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer, porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura ...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2005

Hoje comecei a pedir ... começaram os saldos e resolvi: vou mazé pedir.

Dirigi-me a lojas em centros comerciais, lojas de rua, lojas de pequeno comérico em local duvidoso mas que aparentemente soam a "coisa legal", enfim, em tom de desabafo digo que comecei e terminei hoje, mas que me fartei de pedir isso fartei.

E não pedi nada de exagerado nem de grandeza extrema que não me pudesse ser facilmente facultado através da maior das virtudes humanas, a capacidade de dar e agradar sem esperar receber nada, rigorosamente nada em troca da boa-acção resultante de tal acto - dar.

Pois bem, as reacções às quais me sujeitei pelo simples facto de pedir, porque pedir não é vergonha quando precisamos e estamos necessitados, roubar é que é mesmo mau, e então pedi, e assim me submeti a diversas e imensas reacções, e algumas, diga-se em abono da verdade, de cariz bastante peculiar e assaz acutilante, coisas do género ...

- "Mas é mesmo para si?!", "Não me parece que ande necessitado", "Há mais quem precise e não anda a mendigar", "Olha-me para este, todo bem vestido e a pensar que nos engana", "Vai mas é tomar banho ...", "O que tu querias sei eu óh ...", "Pois pois, agora diz que é para o filho que anda a estudar, deves deves ...", "Estás a pedi-las e eu dou-tas ... Oh sô guarda chêgaqui fáxavor que este andáqui a ver semengana ...", bem, coisas deste género e outras bem piores, mesmo bem piores mas que não me atrevo sequer a pronunciar-me sobre elas.

Por exemplo, ali ao pé da Igreja da Nossa Senhora da Vitória, aproximei-me de uma senhora de aspecto bastante saudável e bem vestida por sinal, e perguntei-lhe:

- "Boa tarde minha senhora, e permita-me desde já desejar-lhe um excelente ano de 2005", ao que a excelsa pessoa me respondeu toda sorridente:
- "Aaaah, muitóbriiigádá e próóó senhor também, mas diga diga, diga em que posso ajudá-lo? Em que lhe posso ser útil?" ... aí eu disse para comigo:
- "tá feito, esta vai ajudar-me" ... ajudar-me os tintins é que ela me ajudou ... mal eu retorqui e lhe disse que
- "Sa senhora não se importa, eu agradecia que me desse, se puder, e olhe que é para o meu filhote ..." - bem, a gaja nem me deixou acabar o raciocinio e arranca logo numa onda de imprupérios que só por serem proferidos por uma senhora já soam mal quanto mais as asneiradas carregadas de intenção que ela me dirigiu ... eu cavei logo dali antes que me atingisse com o pau que servia de fita-métrica, daqueles antigos de madeira.


Mas é isto, é isto que encontramos quando tão delicadamente nos dirigimos a alguém a pedir, e repito, pedir não é vergonha desde que estejamos mesmo necessitados (e que era o meu caso). Mas é tão simples, é tão simples, entramos na loja, dirigimo-nos ao balcão ou a um empregado e educadamente lhe pedimos:

- "Não se importa diga-me por favor, tem por acaso para me dar, amostras de perfume de homem que não necessite e me me possa facultar? São para o meu filho de quinze anos, tem?"

E está o País em Saldos ... !!!
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