Dia da Independência
Faz hoje 33 anos que acordei sob uma outra bandeira que não a minha. Acordei sob uma bandeira com uma estrela, uma arma AK-47, roda dentada, livro, enxada e tiras rectilíneas de cores que partiam de um canto, era a bandeira de Moçambique.
No Clube de Pesca Desportiva, no dia 24 de Junho de 1975 ao fim do dia, perto da meia-noite, lá estávamos todos alinhados junto ao mastro onde todos os domingos estava elegante a bandeira de Portugal a cumprimentar-nos quando entrávamos no Clube. Era de cortar à faca o ambiente nessa noite. Lágrimas nos rostos dos mais velhos, apreensão vincada nos rostos de todos, raiva contida por muitos e eis que soa A Portuguesa e a minha bandeira era arreada. Eu e mais uns quantos miúdos, a Tónia, a Tixa, a Gi, o Majó e mais uns que não me lembro o nome, fomos buscar a bandeira e entregá-la já não me lembro a quem; eu estava dormente, e se fazia frio naquela noite, recordo-me de vestir uma camisola de malha amarelo-torrado e de ter um emblema com o escudo português e outro com a bandeira de Moçambique presos à camisola ... e eis que soa um grito de VIVA PORTUGAL e quase que em simultâneo as kalashnikov da guarda de honra da FRELIMO apontadas ao meu Pai ... ficámos petrificados ... e mal a bandeira de Moçambique começou a ocupar o lugar da sua antecessora gritou, parece que estou lá, lágrimas nos olhos, a sua voz trémula de emoção, gritou um forte VIVA MOÇAMBIQUE e as coisas serenaram. Foi a despedida e as boas vindas atribuídas a um País que estava a nascer, só que foi, infelizmente, um País nado-morto.
Tudo o que nós criámos naquela terra foi desperdiçado, abandonado e desacreditado pelos antecessores dos que hoje governam e ainda mandam em Portugal.
Terra quente, idolatrada por muitos, pelos que lá nasceram, como eu, pelos que para lá foram e se apaixonaram, foi sem dúvida alguma, uma terra que deu muito. Estas sanguessugas que pseudo-governam e governaram Portugal, muitas outrora exiladas e depois trazidas para a ribalta Lusa pelo cansaço de um povo, encheram-se do bom e do melhor antes de fugirem para Portugal. O resto foi abandonado.
Pena tenho agora daqueles que na altura da Revolução dos Escravos pós Abril de 74, neste Portugal cansado, votaram nos Soares-Santos-Crespos-Coutinhos e demais rapaziada de calibre duvidoso, não tivessem outrora capacidade para antever no descalabro em que iriam caír quando os elegeram donos das independências de África, do cessar fogo das tropas, do regressos dos nossos soldados que ainda hoje nada têm a não ser traumas de guerra. Esses que outrora foram eleitos, ainda hoje são os que mais choram e mamam.
Oh meu Povo, não vos deixais enganar por sorridentes remakes de aberrações. Acho que já chega. À chusma de gente que orquestrou a independência de Moçambique, o meu máximo desprezo pelo alçapão que criaram e pela ousadia que ainda hoje têm em querer enganar descaradamente este meu povo.
Quem torto nasce tarde se endireita. É só o que espero para aquele País fantástico que é Moçambique. Que Viva.

